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Problemas Brasileiros


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Correio Popular
Campinas, domingo, 1 de junho de 1997.

 
 
 
Este texto é  importante, pois a partir dele, esta pesquisa teve início. Saiba mais aqui.

O texto é reprodução da  versão eletrônica da Revista Correio Popular, tal como foi encontrada em fev. 1999. Esta revista, atualmente, tem o nome de Revista Metrópole.
Os links e grifos incluídos nesta transcrição e NÃO constam na versão original.

Todos os direitos autorais pertencem à fonte publicadora  Correio Popular.

Favor citar a referência original do texto.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POLÊMICA
O TRABALHO DE HÉRCULES
João Batista César

Celeuma no mundo acadêmico. A tese de mestrado da jornalista Rosana Horio Monteiro sobre Hércules Florence (1804-1879) causou preocupação na cidade. Estariam querendo diminuir a importância daquele que muitos consideram o verdadeiro inventor da fotografia e que desenvolveu sua descoberta aqui em Campinas?

"Não é nada disso", justifica a pesquisadora. "Apenas procurei mostrar que a invenção da fotografia não foi fruto apenas do trabalho de um homem genial, mas que havia um contexto capaz de explicar as condições técnicas e científicas para a descoberta", explica.

"Hércules Florence é o Leonardo Da Vinci de Campinas", diz o psiquiatra Francisco Álvares Florence, tetraneto do pioneiro da fotografia. Mesmo concordando que havia uma urgência na invenção da fotografia e por isso tantos tentavam desenvolver o processo, Francisco ressalta a importância do antepassado. Acha que a contradição arte X ciência marcou sua personalidade e o fez abandonar muitos projetos.

Segundo Rosana, o advento da fotografia foi um processo múltiplo que aconteceu de forma independente e simultânea em vários lugares. Desde o início do século passado, a partir das tentativas do inglês Thomas Wedgwood em fixar imagens sobre substâncias fotossensíveis, as experiências começaram a se multiplicar. Ao todo, 24 pessoas pesquisavam na mesma direção. O crédito oficial da descoberta ficou com o francês Daguerre, que anunciou o invento em 1839.

Sais de prata

Florence já usava a palavra photographie desde 1934 para denominar o processo que vinha desenvolvendo desde o ano anterior. Em seu trabalho ele utilizava papéis sensibilizados com sais de prata ou de ouro, sobre o qual era impressa a imagem obtida pelo contato com uma prancha de vidro. A prancha funcionava como negativo e era enegrecida com uma mistura de fuligem e goma arábica, onde eram feitos os desenhos. A imagem aparecia depois de uma exposição ao sol de cerca de 15 minutos. Florence não usava a câmara escura. Com este método conseguiu imprimir os rótulos de remédio de uma farmácia e um diploma maçônico.

No início, Florence trabalhava com a câmara escura e com nitrato de prata, mas não conseguia evitar o escurecimento gradual das imagens. Sem um agente fixador eficiente chegou a utilizar urina antes de chegar à amônia, além disso suas câmaras escuras eram precárias e não vedavam a luminosidade. Por isso optou pela impressão com luz solar.

Em 1839, quando leu no Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, que o crédito oficial da descoberta da fotografia fora dado a Daguerre, Florence interrompeu suas pesquisas. Passou a se queixar de seu "exílio" e de todas as dificuldades que enfrentara. "Minha imaginação está cheia de descobertas. Nenhuma alma me ouve. Nem me compreende. Aqui só se dá apreço ao ouro, só se ocupam de política, açúcar e café", escreveu ele.

Mas como se explica que tantas pessoas trabalhassem no mesmo invento em lugares tão distintos? A explicação mais frequente, segundo Rosana, tem sido a da maturação cultural. Ou seja, certas descobertas seriam inevitáveis quando as condições sócio-culturais de um local estivessem "maduras". O que era o caso da fotografia. E essa explicação tende a diminuir o papel "heróico" dos inventores. Daí a polêmica.

As dúvidas prosseguiam. Mas que condições técnicas favoráveis poderiam existir em Campinas, nas primeiras décadas do século XIX, para justificar uma descoberta deste porte?

Talento

Foi pesquisando os amigos, colegas e seguidores de Florence, que Rosana pode descortinar o quadro sócio-cultural em que as experiências aconteceram. O Brasil não era o vazio cultural que se apregoava. Com toda a precariedade existente aqui, havia vida inteligente e Florence era muito bem relacionado.

Entre as pessoas com quem convivia estava o boticário e estudioso da flora brasileira Joaquim Correa de Mello; o médico e botânico Karl Engler, que tinha um laboratório em Itu; e o médico, político e futuro sogro Álvares Machado. Gente que, sem estar sob as luzes de Paris, mantinha estreito contato com os meios científicos europeus, por meio de correspondência e assinatura de revistas. Gente com condição de fornecer as informações e as substâncias químicas que ele viria a utilizar em suas experiências.

Após mapear esse quadro, Rosana faz questão de deixar claro que não nega o valor individual de Florence para o desenvolvimento do processo fotográfico: "Ao contrário, seu talento é evidente", reconhece.

Ela se atraiu pela história de Florence desde a primeira vez que a ouviu. Mas foi só a partir de 1986/87, quando fez um curso na Unicamp com o escritor Fernando Moraes, que o interesse começou a virar tema concreto de pesquisa. O requisito básico do curso era a apresentação do projeto de uma biografia. Ela não teve dúvida: Hércules Florence.

Daí para a tese recentemente defendida na Unicamp foi apenas o prosseguimento do interesse. Desenvolvido no "Programa de Pós-Graduação em Políticas Científicas e Tecnológicas", do Instituto de Geo-Ciências, a tese está em vias de ser publicada.

Aventura no sangue

Nascido em Nice, na França, em 1804, Hércules Florence viveu uma vida cheia de aventuras. Desembarcou no Rio de Janeiro em 1824. Trabalhava no comércio quando leu num anúncio: "Naturalista russo em viagem pelo Brasil precisa de pintor".

 

A data correta é 1825.

Era a célebre expedição do Barão Langsdorff, o cônsul geral da Rússia no Brasil, que partia para uma grande jornada científica pelo País. Em setembro de 1925 [sic] desembarcam em Santos. Florence segue na frente para fazer os preparativos. É quando chega a Campinas pela primeira vez.

O ponto de partida é Porto Feliz, o mesmo lugar de onde haviam saído os paulistas para desbravar o interior do continente.

Durante quatro anos produz farta documentação iconográfica, reproduzindo aspectos da vida brasileira: a selva, tropas, tropeiros, fazendas, engenhos, festas, cenas familiares, arquitetura, paisagens. Florence era o segundo desenhista. O primeiro, Amado de Taunay, morre afogado no rio Guaporé, no atual Estado de Rondônia. A excursão termina em Belém, em 1829. Foram mais de 13 mil quilômetros percorridos nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Amazonas e Pará.

Em 1830 se estabelece em Campinas e se casa. A preocupação de retratar de forma objetiva a natureza, que ocupara sua atenção durante toda a expedição, é o primeiro passo para o início de suas pesquisas. Logo estará a um passo de descobrir a fotografia.

Mais tarde desenvolve também um sistema chamado Zoofonia, em que tenta reproduzir o canto dos pássaros e o rugido dos animais por meio de notações musicais. D. Pedro II reconhecia seu talento científico e costumava conversar com ele nas vezes que em esteve em Campinas.

Hércules Florence morreu em 1879, depois de ter vivido por quase 50 anos na cidade. Um personagem que não pode faltar na história da fotografia.

Resquício da colônia

Quando Hércules Florence se estabeleceu em Campinas, em 1830, a cidade ainda tinha feições coloniais. O país já era independente, mas os costumes da cidade, a arquitetura e a ordem social ainda seguiam os moldes dos tempos da colônia.

A cidade tinha pouco mais de sete mil almas. A cana-de-açúcar estava em expansão e uma aristocracia da terra começava a se esboçar. O historiador José Roberto do Amaral Lapa conta que os senhores de engenho já tinham acumulado capital, "mas ainda permaneciam caipiras, sem refinamento, quase não viajavam".

Não havia rede de água, nem iluminação pública e apenas dois sobrados despontavam na paisagem.

O ambiente intelectual não poderia ser definido como estimulante. Mesmo assim, Florence teve a oportunidade de conviver com muita gente de ciência. Estavam por aqui o dinamarquês Theodore Langaard, o irlandês Ricardo Gumbleton Daunt, além de Joaquim Correa de Mello, do austríaco Karl Engler, e do próprio Álvares Machado. Florence portanto tinha com quem discutir suas teorias.

Mas foi só a partir da explosão do café, nas décadas seguintes, que Campinas tornou-se uma cidade de verdade. Mesmo assim, quando D. Pedro II vem a a cidade pela primeira vez, em 1846, ainda tem dificuldade para ser hospedado.

Se em 1830 Campinas ainda era um vilarejo no fim do mundo, já contava com um núcleo de moradores perfeitamente sintonizados com o que se passava no mundo. "O talento, a criatividade e a imaginação de Hércules Florence o fazem um personagem heróico", diz o professor Amaral Lapa. "Mas é lógico que, se ele vivesse na França, seu trabalho poderia ter tomado outro rumo".

© Correio Popular


Fonte e Referência
CÉSAR, João Batista. O trabalho de Hércules. Revista Correio Popular, Campinas, ano 1, n. 12, p. 22-23, 01 jun.1997.

Também conhecida como Revista do Correio, publicada aos domingos como suplemento do jornal "Correio Popular", de Campinas. Atualmente, chama-se
"Revista Metrópole". 

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